Esta semana, o correio trouxe um caixote. É uma coisa que de vez em quando acontece cá em casa. A morada do remetente acabava em: Casablanca, Marrocos. Eu não estava cá para o receber. Só hoje de manhã o abri. Havia dez livros lá dentro. Caixotes com livros é outra coisa que costuma acontecer por aqui. Os livros são todos iguais, o mesmo exemplar repetido dez vezes. Na capa, há uma imagem e palavras escritas, embora eu não seja capaz de as ler. Não sou sequer capaz de distinguir os caracteres que formam as palavras. Imagino que alguns daqueles caracteres estejam agrupados de maneira a formarem o meu nome e também o título do livro - HISTÓRIAS POSSÍVEIS.
Através do instinto, compreendo que o livro se abre ao contrário daquilo a que estou habituado. Se eu soubesse decifrar estes caracteres, leria as frases da direita para a esquerda e passaria as páginas da esquerda para a direita, ao contrário do que sempre fiz.
Dentro do livro, página após página, os caracteres estão alinhados e entrelaçados como se dançassem devagar e a mancha de texto é tão bonita que não me importo de não compreender o que diz.
Eu imaginei as palavras que permitiram a existência destas que agora não compreendo. E isso deixa-me feliz.
(A edição marroquina, em árabe, do meu livro de contos Histórias Possíveis foi publicada no início de Março pela editora Racines, com tradução de Said Benabdelouahed e apoio da DGLB.)
Fico satisfeita com esta informação.Que bom,ver a nossa literatura traduzida e expandida por Marrocos e restante mundo árabe! Belo trabalho tem feito o Said!
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