sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Sobre o Prémio Branquinho da Fonseca

Confesso que tenho andado a gozar felicidade alheia desde que soube que a Maria João Lopes venceu a sexta edição do Prémio Branquinho da Fonseca, na modalidade infantil, com o conto "O gatuno e o extraterreste trombudo". Em Abril deste ano, a Maria João participou num workshop de escrita de livro infantil que orientei na Escrever Escrever. Trazia boas ideias e mão nas palavras. Posso apenas esperar tê-la ajudado a encontrar a melhor forma de trabalhar tanto ideias como palavras. Mas o resto ela fez sozinha, como é suposto acontecer. Já li o conto e percebo que o jurí lhe tenha atribuído o prémio por unanimidade.

E agora está tudo a começar para a Maria João. Recordo bem como foi comigo, há seis anos. De repente o mundo parece enorme e tudo é uma possibilidade. Acredito que essa sensação é rara, é importante vivê-la absolutamente. Espero que a Maria João Lopes saiba isso. Sei, pelo menos, que ela está feliz. E é essa felicidade que ando a gozar.

Parabéns, Maria João.

Na Time Out da semana passada

apresentei o meu plano de marketing para a cidade de Lisboa.


(Clicar na imagem para aumentar)


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Duas ou três coisas

Assim, sem muitos preâmbulos, deixo aqui duas ou três coisas que se passaram nas últimas semanas e depois volto ao trabalho.

O programa do canal Q, Ah, a Literatura! chegou ao fim, o que é mau, porque agora vamos todos ter de voltar a pensar que a literatura é coisa de vida ou morte, ou acima da vida e da morte, que só pode ser debatida por gente com pelo menos três doutoramentos. Eu estava lá, no último episódio, falei até, mas confesso que estive sobretudo entretido com o copo de vinho verde que tinha na mão. Foi assim



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E saíu finalmente o novo número da revista Solta Palavra, editada pelo Centro de Recursos e Investigação sobre Literatura para a Infância e Juventude (ou CRILIJ). Cada número é quase totalmente dedicado a um autor e desta vez escolheram falar sobre o meu trabalho nos livros infantis. Há artigos, recensões, entrevista, bibliografia revisitada e um texto meu. E esta confiança no meu trabalho deixa-me muito feliz. Fica aqui o meu abraço de gratidão e amizade para a Maria da Graça Carvalho e para todos os que de alguma forma participaram nesta revista.


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Na revista Os Meus Livros de Outubro, aproveitando as comemorações do centenário de Alves Redol e Manuel da Fonseca, há um artigo sobre o Neo-Realimo, no qual, entre outras vozes, eu digo o pouco que sei sobre o assunto.

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E é tudo.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Em Outubro vou orientar um novo workshop de escrita de livro infantil

Como os anteriores workshops que orientei, este também vai ser na Escrever Escrever (em pleno Largo do Camões). As inscrições estão abertas, as vagas são limitadas e as estatíticas revelam que as cadeiras na sala ficam sempre todas ocupadas.

São seis sessões ao longo de seis semanas, a começar no dia 10 de Outubro.

Mais informações aqui.

E eu nunca tinha pensado fazer isto, ser "professor", passar conhecimentos, porque nunca me achei dotado de conhecimentos suficientemente relevantes para serem passados. Mas há cerca de um ano a Conceição Garcia (da Escrever Escrever) perguntou-me se eu queria estruturar um curso à volta de escrita de livro infantil e eu disse que sim, sobretudo porque me pareceu importante (para mim, antes de mais) organizar as ideias em relação a algo que sempre fiz guiado por instintos. Não é fácil: transformar instintos em critérios racionais.

Só que a verdade é que estes cursos não são tanto uma passagem de conhecimentos, mas antes uma troca de ideias constante, uma reflexão em grupo sobre narrativas e personagens e palavras. E eu não sei se isto está certo, mas eu aprendo também, eu descubro novas formas de olhar para as palavras através dos pensamentos dos meus "alunos".

E falta falar do meu espanto. Porque eles ouvem-me e quase todos estão dispostos a forçar os seus limites e a largar mão de fórmulas lógicas que os acompanham há muito tempo. No final do curso, quase todos partilham a opinião de que não iam à espera que fosse tão difícil, eles pensavam que escrever um livro era mais simples. A qualidade dos contos que escrevem não é o mais importante, ainda que alguns sejam promissores. Ninguém escreve um bom conto à primeira tentativa. Nem à segunda. Nem à décima quinta. O mais importante é isto: depois daquelas seis sessões eles sabem que se começa a escrever uma narrativa muito antes da primeira palavra surgir no papel ou no ecrã e que o último ponto final da história está longe de ser o final do trabalho. E saber que eles sabem isso deixa-me sempre tão feliz.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Já há coisas a acontecer mas ainda não se podem ver

Três semanas de silêncio aqui no blog para: 1) Voltar a trabalhar no romance que ficou pendurado durante as férias. 2) Gerir a desarrumação da casa por causa das obras que fizemos numa das divisões. 3) Não sou capaz de identificar exactamente um terceiro motivo, é mais uma longa soma de pequenos motivos diários.

Entretanto, as obras terminaram, restou a desarrumação e uma poeira fina que andou vários dias a pairar no ar e por fim assentou em tudo o que há na casa.

E o romance avançou. Isso era importante para mim. Durante as férias escrevi pouco mais de cinco páginas, as ideias e as palavras acumularam-se e andava engasgado.

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Por outro lado, a agenda do próximo ano começa a assumir contornos. Em breve deixo aqui as visitas a escolas e bibliotecas já confirmadas. Há também dois ou três projectos com os quais já aceitei colaborar, no entanto, ainda é cedo para falar sobre isso.

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E o José Mário Silva colocou finalmente no seu blog a recensão que escreveu sobre DEIXEM FALAR AS PEDRAS na revista LER de Junho.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Já está nas livrarias

o livro Diários de Motocicleta, de Che Guevara, na Editora Objectiva. Com tradução minha.

No último mês

No último mês o mundo deixou de existir temporariamente. Em quatro semanas de férias ligámo-nos à internet por pouco mais de uma hora repartida por duas ocasiões. Nas duas primeiras semanas, não ligámos a televisão uma única vez e depois disso assistimos ao telejornal umas três ou quatro noites. Um dia comprámos o jornal mas mal o abrimos. De modo que os emails acumularam-se até ao disparate e soubemos dos motins no Reino Unido quando já tudo estava em paz e ainda hoje não sei o resultado dos jogos que a seleção portuguesa fez nem os do início do campeonato. Não foi propositado. Mas para o ano que vem será.

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Não costumo falar aqui de leituras, mas nas últimas semanas li livros cujos títulos sinto que devo partilhar.

You shall know our velocity, de Dave Eggers (em Portugal está publicado na Quetzal)

The autograph man, de Zadie Smith (em Portugal na Dom Quixote)

The history of love, de Nicole Krauss (em Portugal na Dom Quixote)

The broom of the system, de David Foster Wallace (em Portugal ainda nenhum editor deu conta de que há um buraco nas prateleiras das livrarias e que só este autor lá cabe)

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E depois de três meses (juro, foram três meses) e várias peripécias , chegou no correio esta preciosidade:



o autor é favorito cá em casa e mesmo que fossem apenas meia dúzia de páginas a expectativa seria idêntica.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Notas sobre Belgrado

Da primeira vez que deixei Belgrado, há 7 anos, pensei: "Gostava muito de voltar aqui, mas é possível que isso nunca aconteça." No domingo de madrugada, apanhei um táxi para o aeroporto e pensei: "Gostava muito de voltar aqui, mas é possível que isso nunca aconteça." De modo que tenho esperança.

O meu corpo lembrava-se de Belgrado. Na recepção do hotel pedi um mapa da cidade, mas não cheguei a usá-lo. As minhas pernas sabiam o caminho e os meus olhos sabiam para onde olhar. Sem dificuldade encontrei todos os lugares por onde tinha passado há 7 anos.

No sábado li novamente O Mundo Silencioso de Diamantino. Estávamos no parque Kalemegdan, junto à fortaleza. A noite estava fria mas não chovia. Antes tinham passado o filme The Graduate e havia centenas de pessoas espalhadas pela relva. Quando o filme terminou e começaram as leituras, muita gente levantou-se porque a literatura é, de longe, menos popular do que o Dustin Hoffman. Mas ainda assim umas cem pessoas resistiram ao impulso de ir para casa e ficaram para ouvir escritores a ler contos em idomas incompreensíveis. Gosto muito dessas cerca de cem pessoas.

E agora Lisboa outra vez. Mas isso nunca foi uma coisa má.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Os dias de Kikinda

É muito bom estar de volta à Sérvia, claro. Mas é mais do que isso. Desta vez há literatura à mistura.

Por enquanto o Festival de Conto de Kikinda está em Kikinda. Nas últimas duas noites, cerca de trinta autores de quase vinte nacionalidades subiram a um palco no jardim da biblioteca municipal e leram os seus contos. Ao que parece, também aqui os novos escritores estão na moda. Quase todos os autores convidados do festival têm menos de 40 anos, apenas um ou dois romances publicados (a estrela da trupe, uma espécie de padrinho entre nós, é o escritor irlandês Bernard Maclaverty).

Cada autor lê o seu conto na sua língua; em simultâneo, atrás, numa parede, o texto é projectado na versão sérvia e também na versão inglesa, para que todos possam seguir o autor que lê. É muito impressionante como tudo se complementa: a leitura do texto em voz alta numa língua cujas palavras são para mim indecifráveis impõe a sonoridade e o ritmo à leitura que eu faço em silêncio em inglês.

Em mesas de café e bancos de jardim, 150 pessoas acompanham a literatura com cerveja e schnapps. E ao longo de duas horas, os autores sucedem-se no palco para ler histórias e na audiência o silêncio profundo é apenas interrompido pelos aplausos no final de cada leitura.

Ontem à noite li o conto O silencioso mundo de Diamantino, do meu livro HISTÓRIAS POSSÍVEIS.



Hoje, depois de almoço, seguimos para Belgrado e nas próximas duas noites as leituras vão repetir-se ali. E há uma ansiedade evidente entre todos: a experiência de Kikinda foi muito gratificante.

Nota final: só ontem à noite me apercebi que tinha saudades de comer um burek às três da manhã.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Viagem para o leste

O vento soprou devagar nas últimas semanas, mas ainda assim acabou por afastar a névoa que pairava sobre o meu pulmão. E em plena convalescença começo a fazer as malas. Amanhã cedo - demasiado cedo, por sinal - sigo para a Sérvia, para o Festival do Conto de Kikinda.

Estive na Sérvia na Primavera de 2004. Viajava sozinho pelos Balcãs. Apanhei o comboio em Zagreb, viajei toda a noite, dormindo estendido num banco e cheguei a Belgrado às primeiras horas da manhã. Estive 4 dias em Belgrado. Havia um sol quente por cima da cidade e uma luz de encantar turistas. Sentei-me nas poltronas das esplanadas, percorri as longas avenidas, estive um par de horas a olhar para a extensão de água que é o lugar onde o Danúbio e o Sava se unem, visitei as igrejas, os museus, a solitária campa do Tito . Inesperadamente, senti-me em casa - não na campa do Tito, mas na cidade em geral. Depois, apanhei outro comboio que me levou para sul, para a Bulgária.

Agora vou regressar e sinto as memórias estremecerem. Não conheço Kikinda. Sei que fica no Norte da Sérvia, perto da fronteira com a Roménia. Sei que, ao longo da próxima semana, escritores de toda a Europa estarão ali para ler contos, palavras escritas e ditas em diferentes línguas. E sei que, depois dos próximos dias, essa cidade será também uma memória em mim.

Se por acaso alguém andar pela Sérvia esta semana, vou estar a ler contos de HISTÓRIAS POSSÍVEIS, na sexta-feira em Kikinda e no sábado em Belgrado.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

E-book + nevoeiro no peito + Porto + 33

Antes de mais, fica aqui o convinte para aparecerem hoje à noite no Chapitô para uma conversa sobre o e-book, no âmbito do ciclo Para Acabar de Vez com a Leitura. Sou eu, o Carlos da Veiga Ferreira, o José Mário Silva, o Miguel Miranda, o João Tordo (embora o nome dele não apareça no cartaz) e o Nuno Seabra Lopes. A moderação é da Eurídice Gomes.



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A tosse não passa. Ontem, numa nova radiografia ao tórax descobri que há neblina branca e esfiapada sobre o meu pulmão direito, como se fosse manhã cedo dentro do meu peito e o sol ainda não tivesse subido. Não parece mau tempo, tem aspecto de clima ameno, mas a tosse violenta que me provoca é de temporal.

Para os mais atentos: sim, é ainda o mesmo temporal que me assaltou há um mês atrás. O vento não tem soprado com a força necessária para levar com ele as nuvens.

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Estive dois dias no Porto para a Feira do Livro. Primeiro no debate sobre Novos Autores Portugueses. A conversa foi óptima, mas quase poderia ter acontecido ali como no restaurante onde jantámos antes. Porque havia pouco mais de dez pessoas na assistência. E eu sei que estávamos a falar de coisas habitualmente chatas como são os livros e os escritores, e que era nove e meia da noite de uma sexta-feira, e que a dimensão da Feira do Livro do Porto é consideravelmente menor em relação à de Lisboa, e que nenhum dos convidados sentados à mesa era uma mega-estrela da literatura nacional. Mas, ainda assim, alguma coisa está a falhar. Tenho a certeza de que há mais gente no Porto e arredores interessada em assistir a uma conversa deste tipo. No entanto, por algum motivo obscuro, a mensagem não chegou a essas pessoas. E o problema não é só do Porto. Tem-me acontecido, de vez em quando, um pouco por todo o lado, mesmo fora de fronteiras.

No sábado houve autógrafos e conversa com amigos do Porto, escritores, editores, jornalistas e simples civis.

E também boa comida e óptimo tempo.

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Ontem, no mesmo dia em que fiz a radiografia, fiz anos. Não me senti um ano mais velho, senti-me um ano com mais tosse.

Aproveito para agradecer todas as mensagens no facebook, e-mails, sms, telefonemas. É muito bom estar assim rodeado de amigos.

Quero partilhar duas mensagens que recebi. Uma do Paulo Freixinho, esse fanático inveterado das palavras cruzadas portuguesas, que me ofereceu este retrato.



E uma mensagem encriptada do Carlos da Cruz Luna:

SNÉBARAP!!!!!!!!!!!!

muito apropriada, claro, mas apenas perceptível para quem leu DEIXEM FALAR AS PEDRAS. Aliás, em breve quero escrever aqui sobre essas duas páginas do romance.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

2 dias de Porto

O programa para os próximos dias passa para a Feira do Livro do Porto.

Amanhã, sexta-feira, dia 10, às 21:30, vou participar no debate FICÇÃO PORTUGUESA: 4 DA NOVÍSSIMA VAGA, um tema que, ao que parece, é uma tendência desta estação. Os outros participantes são o Pedro Vieira, o Paulo Ferreira e o António Figueira. A moderação caberá ao Tito Couto.

Depois, no sábado, dia 11, a partir das 15:00 podem encontrar-me no espaço da Leya, para autógrafos e conversa.

Apareçam e cheguem-se, por favor não fiquem a olhar-me à distância, o tempo em que eu mordia já lá vai.

Entre estas actividades conto estar presente em almoçaradas, jantaradas e outras animações. Espero encontrar amigos que não vejo há algum tempo.

É a primeira vez que vou estar na Feira do Livro do Porto. Até hoje nunca se tinha proporcionado. E fico feliz, claro.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Cata Livros + Comunidade de Leitores + Imprensa

Vou tentar lembrar-me de tudo.

Antes de mais, está finalmente operacional o site Cata Livros. O projecto é uma pareceria entre a Casa da Leitura e a Fundação Calouste Gulbenkian e disponibiliza uma série de livros em diferentes formatos. Entre leituras em voz alta, entrevista com autores, animações a partir de livros e outras actividades, é possível folhear as primeiras páginas de O TUBARÃO NA BANHEIRA e de OS QUATRO COMANDANTES DA CAMA VOADORA. Se quiserem tentar chegar lá sozinhos sem se perderem, na página inicial do Cata Livros, cliquem na janela desenhada num papel, depois, para a Cama Voadora, cliquem no avião de papel e, para o Tubarão, no barco de piratas de papel.

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Um comentário à conversa sobre DEIXEM FALAR AS PEDRAS na Comunidade de Leitores da Almedina. Muitos tinham lido o livro, alguns, entre perguntas e opiniões, disseram-me que tinham gostado. E eu fiquei feliz. Mas fiquei mais feliz quando vários membro da comunidade se puseram a discutir, com algum fervor à causa, se a família do meu livro é ou não uma família desestruturada. Não houve consenso. E isso é muito bom quando se trata de um romance.

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Deixo aqui a ligação para a (muito elogiosa) crítica a DEIXEM FALAR AS PEDRAS que o António Pedro Vasconcelos escreveu na sua crónica semanal no jornal Sol.

Há uma outra crítica a DEIXEM FALAR AS PEDRAS na edição de Junho da revista Blitz, pelo João Bonifácio.

No Atual desta semana, há crítica a A MALA ASSOMBRADA, pela Sara Figueiredo Costa.

As palavras e os números

Não foram as palavras que se esgotaram. Antes pelo contrário: as palavras acumulam-se em encadeamentos distintos e paralelos. Foi o tempo, claro. Não só o tempo dos relógios, mas também o tempo na cabeça, que se estreitou muito por causa das aglomerações de palavras. Fica, como explicação, um (micro-)conto sobre matemática:

Éramos três cá em casa. Agora somos quatro.

A diferença - 1 - é enorme, é o espaço todo, é uma vida inteira, são todas as palavras e o próprio significado das palavras, que se alterou e expandiu.

(A emissão segue já de seguida.)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Uma semana em jeito de relato

A semana passou mais calma que as últimas. E eu sabia que andava a precisar muito disto, mas não sabia que precisava tanto.

Ainda assim saí de casa na terça-feira e fui à livraria Barata para assistir à leitura de A MALA ASSOMBRADA pelos alunos do 3ºD da EB1 do Bairro de São Miguel. E gostei tanto. O livro a saltar de mãos, os ritmos diferentes da leitura, as pessoas que assistiam a sorrir. Já li o livro em voz alta muitas vezes e começo a ficar viciado em certos tiques de leitura e num tom que me sai por instinto. Foi muito bom ouvir a história noutras vozes, quase como se fosse outra história.

E no final houve autógrafos. Aqui fica o registo desse momento.


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Para quem não deu conta (e acredito que muitos não tenham dado conta), a minha semana passada foi muito televisiva.

Duas vezes na TVI24, em dias seguidos (eu sei, é absurdo). Primeiro no Nada de Cultura, do Francisco José Viegas, com a Patrícia Reis, o Paulo Ferreira e o António Fiqueira, à conversa sobre contar histórias. Depois no Livraria Ideal, do João Paulo Sacadura, a falar sobre DEIXEM FALAR AS PEDRAS e A MALA ASSOMBRADA.

E ainda no Ah, a Literatura!, do Canal Q, da Catarina Homem Marques e do Pedro Vieira, filmado na Feira do Livro de Lisboa, num dia de sol e calor, e vim de lá a pensar que todos os programas na televisão deveriam ter a sua própria barraca de farturas porque os convidados, por mais ilustres, pareceriam mais pessoas com os dedos engordurados e a boca cheia de açúcar.

No jornal Público do último sábado, a Rita Pimenta critica assim A MALA ASSOMBRADA:

Dois irmãos. Um medroso (o mais velho) e um destemido. O primeiro quer assustar o segundo e inventa um fantasma fechado numa mala que encontrou em cima do muro de um casarão. O plano sai-lhe ao contrário. O irmão mais novo não só abre a mala, como o convence de que o fantasma, agora à solta, o persegue por toda a casa. Chega até a entrar nos canos. “Se estiveres calado, consegues ouvir os barulhos que o fantasma faz dentro das paredes.” Não é apenas uma história sobre os medos, invocando o sobrenatural (grato aos pequenos leitores), é também sobre a cumplicidade, a competição e a brincadeira entre irmãos. David Machado criou uma bela história. O talento de João M. P. Lemos consegue brilhar mesmo nas ilustrações mais sombrias… e as imagens vão bastante além da narrativa. Um aplauso especial para as páginas de fundo (quase sempre) escuro, cujos elementos surgem apenas em contorno. Sintetizam de forma exemplar as ideias a transmitir.

E o texto da Rita Pimenta deixa-me muito contente, sobretudo pelos piropos ao trabalho do João Lemos.

Por outro lado, parece que na edição de hoje do Sol, o António Pedro Vasconcelos escreve na sua coluna sobre DEIXEM FALAR AS PEDRAS. Ainda não li. Mas disseram-me que ia gostar.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Estes dias

Estes dias têm o mesmo sabor intenso da última semana de aulas. O calor ajuda.

Hoje estive em Salvaterra de Magos para falar com alunos de esolas do concelho. Fiz três sessões. Foram as últimas sessões que fiz este ano (lectivo). Li A MALA ASSOMBRADA. Os miúdos disseram-me que não lhes meteu medo. Mesmo assim tinha esperança de que numa madrugada destas acordem com um pesadelo. Disse-lhes isso. Eles responderam que um pesadelo com A MALA ASSOMBRADA seria um bom pesadelo. Eu sorri.

E faltam dois dias para terminar a Feira do Livro de Lisboa. Amanhã, sábado, 14 de Abril, às 17:00, na praceta da Editorial Presença, há teatro a partir de A MALA ASSOMBRADA pelo Espaço Cativar. Depois, eu e o João Lemos vamos estar disponíveis para autógrafos e conversa.

Antes, às 16:00, conto estar na Praça Verde da Feira para o lançamento do novo projecto do meu estimado amigo e ilustrador de O TUBARÃO NA BANHEIRA, Paulo Galindro. Na verdade, são dois novos livros - Sabes que também podes ralhar com os teus pais? e Sabes onde é que os teus pais se conheceram?. Os textos são da Maria Inês de Almeida. Na editora Booksmile. E isto faz-me lembrar a promessa que fiz a mim próprio há coisa de dois anos: arranco um dente se não volto a trabalhar com o Paulo Galindro.

Segunda-feira dou a última aula da oficina de escrita de livro infantil na Escrever Escrever. A próxima oficina será só em Outubro.

Depois, para além de uma ou outra apresentação de livros e autógrafos, vou sair de cena. Há outras prioridades que se impõem. As palavras vão ter que esperar, embora haja dois livros para terminar. Espero que o verão seja longo, que o tempo me permita espaço para tudo. Espero conseguir continuar a aparecer por aqui sempre que me apeteça aparecer por aqui.

Isto não é uma despedida, claro. A última semana de aulas nunca era exactamente uma despedida.

terça-feira, 10 de maio de 2011

As engrenagens

Vamos por partes.

Primeiro, sobrevivi exausto a um fim-de-semana muito simpático na Feira do Livro de Lisboa. No sábado, sentado no centro do turbilhão da Praça Leya, comecei a perceber que a engrenagem do dito boca-a-boca já está em movimento à volta de DEIXEM FALAR AS PEDRAS. Fico feliz, claro.

No domingo, houve teatro a partir de A MALA ASSOMBRADA para a criançada e o Espaço Cativar, à semelhança daquilo que tinha acontecido com O TUBARÃO NA BANHERA no ano passado, fez um trabalho notável na adaptação do livro.

Também no domingo, ao final da tarde, houve debate no Auditório da Feira sobre as escolhas dos melhores livros de ficção do último ano. (Para quem ainda não deu conta: há debates todas as tardes no Auditório da Feira.) A conversa (que não chegou ser conversa) era entre mim e o Manuel Alberto Valente (editor da Porto Editora), o Luís Ricardo Duarte (jornalista e crítico do Jornal de Letras) e o Sérgio Lavos (livreiro da Bulhosa de Campo de Ourique), moderado pelo José Mário Silva (crítico e jornalista do Expresso). Eu levei comigo livros de contos e tentei apresentá-los como se fossem diamantes que descobri por acaso entre a papelada dos romances. Aqui ficam os títulos (numa ordem ao acaso):

- Pássaros na boca, de Samantha Schewblin, Cavalo de Ferro;

- Um repentino pensamento libertador, de Kjell Askildsen, Ahab,

- Contos dos subúrbios, de Shaun Tan, Contraponto;

- Os objectos chamam-nos, Juan José Millás, Planeta;

- Break it down - Demolição, Lydia Davis, Ulisseia.

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E na imprensa (essa outra engrenagem)...

No sábado, no jornal I, houve entrevista comigo sobre o meu método de escrita. E eu esqueci-me de comprar o jornal e ainda não vi aquele que me guardaram.

Já está disponível no youtube o programa Ler Mais Ler Melhor (da RTPN, apresentado pela Teresa Sampaio) sobre DEIXEM FALAR AS PEDRAS. Podem ver aqui.

No blog Novos Livros, a secção 3 Perguntas a é sobre DEIXEM FALAR AS PEDRAS. Espreitem.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eu na Feira do Livro:

- Sábado, dia 7, às 15:00 - autógrafos na Praça LeYa;

- Domingo, dia 8, às 15:00 - autógrafos e teatro de A MALA ASSOMBRADA, no espaço da Presença;

- Domingo, dia 7, às 17:30 - debate sobre Os Melhores Livros do Ano, com Manuel Alberto Valente (editor da Porto Editora), Ricardo Duarte (jornalista e crítico do Jornal de Letras) e Sérgio Lavos (livreiro da livraria Bulhosa) e moderação de José Mário Silva, no Auditório da Feira.

Apareçam.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ponto de situação

Pausa na escrita (sim, parece incrível mas estou a escrever) para fazer um ponto de situação.

Hoje, na Livraria Almedina do Atrium Saldanha, a Comunidade de Leitores orientada pela Filipa Melo vai trabalhar o DEIXEM FALAR AS PEDRAS. Depois, no dia 25 eu próprio estarei presente para conversar com os participantes da comunidade sobre o meu livro e também sobre o livro de contos Pássaros na Boca, de Samantha Schewblin (leitura paralela sugerida por mim).

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Amanhã de manhã vou estar no Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, para conversas com os alunos sobre escrita e livros. E tenho o estômago cheio de minhocas, claro, porque foi neste colégio que fiz o liceu e é muito bom regressar, mas também é assustador e estranho.

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Entretanto, na página do Ipsilon ficou disponível a crítica ao DEIXEM FALAR AS PEDRAS do dia 29 de Abril.

E há uma nova crítica ao livro na revista Os Meus Livros deste mês.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Recapitulando

Eu queria ter escrito antes, mas os dias andam apertados demais. Hoje não é excepção, mas acabei de chegar a casa e descobri que tenho um par de horas para gastar. De modo que aqui vai, em jeito de recapitulação.

A semana passada estive dois dias em Viana do Castelo, a convite da Biblioteca Muncipal, para a 2ª dos Contornos da Palavra, um festival literário que vai crescer. Este ano, o tema era Literatura de Viagens. No primeiro dia orientei duas oficinas de escrita criativa. Não estava seguro em relação a esta actividade, sobretudo porque se tratavam de alunos entre os 16 e os 18 anos e todos as oficinas que fiz até hoje foram com adultos. E depois as minhas preocupações cairam por terra assim que começámos os exercícios. Porque a imaginação deles é ampla e ao mesmo tempo controlada e a forma como usam as palavras é verdadeiramente eficaz, as frases apresentam múltiplas leituras e imagens poderosas, e sabem assimilar nas suas intenções as sugestões que recebem. Quero fazer isto mais vezes.

No segundo dia em Viana, falei com alunos do 9º ano de três escolas diferentes sobre literatura e viagens e li algumas páginas de DEIXEM FALAR AS PEDRAS. E tenho a sensação de que o gozo que me dá ler este livro para adolescentes nunca vai esmorecer.

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Na passada sexta-feira foi publicado no Ipsilon, o suplemento de cultura do Público, um artigo de várias páginas sobre a nova geração de narradores portugueses na literatura e eu entre eles. Não me atrevo sequer a considerar a hipótese de que a minha fotografia na capa me coloque mais à frente que os restantes autores citados no artigo. E não quero passar a ideia de que a literatura que não encontra traves mestras na narrativa está condenada a desabar. A literatura de ficção, para minha enorme felicidade, é muitas coisas diferentes e para mim a narrativa é muitas vezes o mais importante, mas apenas enquanto autor. O leitor que sou quer percorrer mais caminhos para além desse.

Sobretudo, como noutras ocasiões semelhantes, fico feliz pelo interesse e confiança no meu trabalho e pelo apoio que recebi.

No mesmo Ipsilon vem uma crítica do João Bonifácio a DEIXEM FALAR AS PEDRAS. Assim que estiver disponível deixo aqui a ligação.

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Ontem, Feira do Livro, sessão de autógrafos na praça Leya. Não foi exactamente sessão de autógrafos porque dois autógrafos não é uma sessão de autógrafos. Mas estava a chover e era apenas o primeiro fim-de-semana da feira e há a questão da crise e as pessoas (eu incluído) deixam as compras para a happy-hour. Foi, ainda assim, uma tarde bem passada, à conversa com editores, autores, jornalistas e leitores que pararam na mesa onde estava sentado.




E consegui apanhar o final do debate no auditório da feira sobre o balanço editorial do ano na literatura infantil, moderado pela Sara Figueiredo Costa. E ainda bem porque estavam a debater-se coisas importantes, se é que nisto da literatura há coisas importantes.

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Hoje de manhã estive na Escola Alemã do Estoril a falar com alunos do primeiro ciclo sobre livros e imaginação. Isto é, eu falava e em simultâneo alguns alunos traduziam o que eu dizia para alemão para aqueles que não compreendem português. E como noutras ocasiões em que precisei de intérprete fiquei com vontade de ter sempre um a acompanhar-me. Porque o pensamento ganha um outro ritmo, mais lento, mais atento, mais exacto.

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E já está: esgotou-se o meu par de horas livres.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Notas avulsas

Último dia de antibiótico e sinto-me quase em forma outra vez. De modo que regresso ao trabalho. Tudo o que tinha pensado fazer nestas últimas duas semanas ou não foi feito ou foi feito a meio-gás.

Ainda em relação ao lançamento de A MALA ASSOMBRADA, agradeço a todos os que apareceram, os que enviaram mensagens ou telefonaram. As vossas palavras fizeram-me bem. E agradeço também aos blogs, sites, jornais, revistas e bocas que anunciaram o lançamento e apregoaram a presença deste novo livro nas livraria.

Entretanto, na imprensa, as novidades são: crítica do Miguel Real no Jornal de Letras ao DEIXEM FALAR AS PEDRAS; artigo na NS (revista de sábado do Diário de Notícias) sobre os hábitos e manias dos escritores, entre eles eu.

Amanhã sigo para Viana do Castelo, onde vou estar, até quinta-feira, a fazer oficinas de escrita criativa e a falar com os mais pequenos sobre livros, escrita, imaginação.

E aproveito para lembrar que na quinta-feira começa a Feira do Livro de Lisboa e eu gosto da Feira e da multidão que a povoa e dos autores sentados ao sol à espera de uma página onde rabiscar uma dedicatória e dos livros, claro. As minhas datas para autógrafos na Feira já estão na Agenda (no cimo desta página). E também para um debate sobre o Balanço Editorial do último ano, no qual irei participar.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Desejo secreto: quero que as crianças não consigam dormir à noite por causa de A MALA ASSOMBRADA

A MALA ASSOMBRADA está nas livrarias, pode ser comprado e lido. Quero muito que seja lido. E, de entre todas as leituras possíveis da história, a que mais me interessa é aquela que provoque o medo no leitor. Quero assustar as crianças.

O João Lemos, eu, a Inês Mourão (da Editorial Presença) e o Rui Zink.

Ontem, o lançamento deixou-me feliz. Havia pessoas vindas de vários lugares e tempos da minha vida. De alguma forma, fez muito sentido vê-las assim, todas de uma vez, todas reunidas. Havia também pessoas que me conhecem mas que eu não conheço, leitores de outros livros que escrevi. É bom saber que confiam em mim o suficiente para virem celebrar comigo um livro que ainda não leram.

O Rui Zink falou sobre o livro, dissecou-o, atravessou os principais temas que aborda e depois atirou-se aos detalhes do texto e da ilustração. Uns minutos depois, eu expliquei os motivos que me levaram a convidá-lo para apresentar A MALA ASSOMBRADA. Quando eu tinha quinze anos, vi pela primeira vez A Noite da Má Língua. Pareceu-me hilariante, embora não percebesse metade das piadas que eles faziam, e quis saber quem eram aquelas pessoas. Descobri que dois eram escritores e que um desses escritores se chamava Ruizinho. Na altura pensei que um escritor chamado Ruizinho só podia ser autor de livros infantis. O meu equívoco durou uma ou duas semanas. Ainda assim, tantos anos depois, de alguma forma fazia todo o sentido ter o Ruizinho a apresentar o meu novo livro para crianças.

Eu e o João Lemos falámos sobretudo sobre o processo de trabalho neste livro. Já o disse antes por estas paragens: a colaboração entre o escritor e o ilustrador tem de ser total. Em muitos livros ilustrados que são publicados, os dois autores nunca trocaram mais do que um ou dois breves e-mails. Isso é uma loucura, é uma falta de respeito pelo livro e pelos leitores. A comunicação entre mim e o João foi constante e todas as decisões importantes foram tomadas a duas vozes. Até ao final do trabalho. Uma vez, uma ilustradora disse-me que não deixava que o escritor se metesse nas ilustrações porque ela também não se tinha metido na escrita. Eu percebo isso, mas é uma premissa falsa. Porque na realidade o texto deve meter-se na ilustração e a ilustração deve meter-se no texto. Neste livro, o processo foi o mais habitual: eu escrevi o texto, depois o João Lemos ilustrou. E nesse ponto, fizemos algo nada habitual: eu revi o texto e cortei ou reescrevi algumas frases, já tendo em conta a parte visual da história. E fica feito o aviso: não volto a trabalhar de outra forma.

Para terminar, deixo aqui as primeiras quadras do livro (não é um poema, mas o texto está estruturado em grupos de quatro linhas), pode ser que depois vos apeteça ler mais.


Ao fundo da nossa rua, depois de todas as casas, depois de todas as árvores,
depois do campo de ervas altas e do ribeiro de água gelada,
há um muro. E atrás do muro, há um casarão,
velho e abandonado, torto e escuro, onde ninguém vive.

Todas as tardes, quando regresso da escola, passo ao lado do muro.
E não gosto. Porque tenho um bocadinho de medo do casarão.
Se não fosse o muro teria muuuuuito medo do casarão.
Seja como for, uma tarde, estava uma mala em cima do muro.

Era uma mala pequena, com a pele gasta e uma fechadura ferrugenta.
Tentei abri-la, claro, mas sem a chave respectiva não fui capaz.
Sacudi-a e pareceu-me vazia. E nesse momento tive uma ideia.
Eu ia usar a mala para meter medo ao meu irmão.

Dragões e ladrões, tempestades, aranhas e leões:
o meu irmão não tem medo de nada.
E ele só tem cinco anos.
(Eu tenho nove. E assusto-me com tudo.)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Os meus pulmões, A MALA ASSOMBRADA e autores portugueses

Estou sentado no sofá. Tenho um chá bem quente ao lado, uma pastilha para as dores de garganta debaixo da língua e uma manta em cima das pernas. Estou assim há nove dias. Primeiro pensei que fosse uma alergia (já aconteceu antes), depois pensei que fosse uma gripe (já aconteceu antes), depois pensei que fosse uma gripe muito forte (também já aconteceu antes). A medicação tem sido adaptada com prudência às diferentes possibilidades. Contas por alto, no total tomei uns quarenta comprimidos. O meu estado é exactamente igual ao do primeiro dia: nem melhor, nem pior. Tenho a sorte de as escolas estarem encerradas para férias da Páscoa e de ter a digressão suspensa por duas semanas.

Só para dar final a este episódio (mas não há minha convalescença), digo que hoje estive no hospital: infecção pulmonar: antibiótico.

(Nota: Espero que tenha sido a última vez que dei uma entrevista ao telefone na sala de espera das urgências. Para que conste, interrompi uma resposta para fazer uma radiografia e depois retomei.)

...

Aproveito para relembrar que é amanhã (19 de Abril), às 18:30, o lançamento de A MALA ASSOMBRADA. Na livraria Bertrand do Picoas Plaza. Com apresentação do Rui Zink.



Apareçam. Tragam a criançada.

...

Quarta-feira vou estar na livraria Bulhosa de Campo de Ourique, à conversa com o Pedro Vieira, o Afonso Cruz e o João Tordo, sobre novos autores portugueses. Com moderação de Sérgio Lavos.



Apareçam. Tragam a criançada, se for criançada dada a coisas sobre novos autores portugueses.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

DEIXEM FALAR AS PEDRAS 8

Aqui fica um apanhado daquilo que se disse (e também do que tenho eu dito) na imprensa sobre DEIXEM FALAR AS PEDRAS.

Para além da crítica da Sara Figueiredo Costa, na Time Out, que já deixei aqui, há entrevistas:

no Jornal de Letras. Podem ler aqui, no blog A Volta do Parafuso, do jornalista do JL, Luís Ricardo Duarte.

no programa Câmara Clara diário, na RTP2. Vejam aqui, a partir dos 2:50 minutos.

no programa Ensaio Geral, da Maria João Costa, na Rádio Renascença, aos 8 minutos de programa. Oiçam aqui.

no programa À Volta dos Livros, da Ana Aranha, na Antena 1, aqui.

O Tito Couto sugeriu o romance, na sua rubrica «Muito Mais do que Livros», do programa Porto Alive, do Canal Porto, aqui (aos 3,50 minutos)

Os jornais Nova Aliança e Abarca fizeram reportagens sobre o dia em que visitei as escolas de Abrantes, onde falei para mais de 600 alunos, assinei mais de 150 livros e li, pela primeira vez em público, A MALA ASSOMBRADA. Nos dois artigos fala-se de DEIXEM FALAR AS PEDRAS.

Depois, apareceram referências, curtas ou extensas, ao romance, na Caras, na Focus, no Destak, no Correio do Minho, n'A Bola (uma estreia nos desportivos!), e no Fórum do Vale do Sousa (onde se faz um prognóstico simpático mas por enquanto disparatado).

Disseram-me que no programa Nada de Cultura, na TV24, o Miguel Real (que era convidado), recomendou a leitura de DEIXEM FALAR AS PEDRAS, o que me deixa feliz.

Espero que não fique por aqui. No entanto, se ficar, já me sinto de barriga cheia. Um grande abraço de gratidão a todos os que prestaram atenção ao meu livro.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Lançamento de A MALA ASSOMBRADA

É no dia 19 de Abril. Às 18:30. Na Bertrand do Centro Comercial Picoas Plaza. Com apresentação do Rui Zink.

Aqui fica o convite (oficial).

segunda-feira, 11 de abril de 2011

E agora A MALA ASSOMBRADA

DEIXEM FALAR AS PEDRAS está nas livrarias, foi lançado, etc. Ainda não foi tudo dito ou feito, mas por agora vou afastar-me, deixar espaço para que se aproximem do livro, para que o leiam.

É hora de falar sobre A MALA ASSOMBRADA. O livro está pronto, tenho-o aqui ao pé de mim e só por isso sou mais feliz.

Antes de mais, a capa:



O livro estará à venda nas livrarias a partir de 19 de Abril. E nesse mesmo dia haverá uma sessão de lançamento, com apresentação do Rui Zink (deixarei aqui mais informação nos próximos dias).

sexta-feira, 8 de abril de 2011

DEIXEM FALAR AS PEDRAS 7

Ontem, durante o dia, várias pessoas, de viva voz ou por sms, me perguntaram: Estás nervoso? Eu não estava.


Eu estava nervoso quando pensei pela primeira vez em escrever o meu segundo romance, estava nervoso quando o primeiro capítulo ficou pronto e eu percebi que não sabia o que fazer depois, estava nervoso quando descobri o que fazer depois, estava nervoso quando a frase "Deixem falar as pedras" se levantou mais alto entre outras frases nas minha cabeça, estava nervoso quando o livro ficou escrito e começaram as revisões, os cortes, os acrescentos, e estava nervoso no momento em que decidi que já não eram necessários mais cortes e acrescentos. Mas ontem não estava nervoso. Ontem era dia de celebração, não havia motivos para estar nervoso.


Veio gente, amigos, família, amigos de amigos, professores de escolas que já visitei, leitores cujo único ponto de ligação comigo são os livros que escrevi. Sentei-me. Ao meu lado direito, estava a Maria do Rosário Pedreira, a minha editora, e só por isso senti-me mais confiante no meu lugar diante de várias dezenas de pessoas. (Quero muito contar a minha história com a Rosário, mas não agora.) Ao meu lado esquerdo, estava o Mário de Carvalho, o narrador (como me habituei a chamá-lo em silêncio), generoso nas suas palavras acerca do meu romance.


Senti-me feliz, no meio de tantas pessoas de quem gosto tanto. Senti-me mais feliz por vê-las com o meu livro nas mãos. Obrigado a todos os que apareceram, aos que enviaram mensagens e àqueles que, no seu silêncio, pensaram em mim.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Os loucos na Madeira

Há uns meses eles disseram-me: «Vamos organizar um festival literário no Funchal.» E eu pensei: Que loucos. Mas com admiração e estima, porque eu até gosto muito de loucos. E depois eles disseram-me: «E tu estás convidado.» E eu pensei: Que simpáticos, querem partilhar a sua loucura comigo.


No entanto, a verdade é que o primeiro Festival Literário da Madeira não era uma loucura. Houve sessões em que escritores debatiam temas, houve pessoas (às vezes casa cheia) sentadas a assistir, algumas, sem temor, lançavam perguntas, houve livros à venda (vários autores viram os esgotarem), houve jornalistas a acompanhar o evento com microfones, máquinas fotográficas, câmaras, computadores, houve visitas a escolas, houve sessões de autógrafos, houve uma organização eficiente e competente, houve momentos de descontracção entre autores e jornalistas e público. Como se não fosse o primeiro Festival Literário da Madeira, mas o quinto, ou o décimo segundo.


E ainda assim eu conheço os loucos que estiveram por trás de tudo - a consultora Booktailors e a editora Nova Delphi - e sei que o quinto Festival Literário da Madeira não será nada disto: será muito mais, algo que não sou capaz de imaginar, porque não sou tão louco como eles, apenas gozo o privilégio de partilhar da sua loucura.

DEIXEM FALAR AS PEDRAS 6

Na Time Out, a Sara Figueiredo Costa escreveu assim:


Quando se vêem as frases riscadas a marcador preto na capa, não se estranha. Mas quando, na página 16, surge a primeira rasura no próprio texto, percebe-se que o marcador preto não é só adorno, mas antes um signo para decifrar no próprio romance. Só mais à frente se perceberá que essas rasuras estão profundamente ligadas à ideia de mexer no passado, de o recuperar como memória e de lhe dar a forma de uma verdade pronta para entregar ao futuro.


E é essa a matéria de que David Machado se socorre para construir uma narrativa labiríntica, comovente e cheia de uma força que deve tanto à habilidade do narrador como à sua dedicação ao gesto de contar.


Às coisas importantes na vida de um adolescente, ou seja, miúdas (neste caso), música inaudível e roupa pouco amiga do ambiente, Valdemar juntará a presença do avô, Nicolau Manuel, que foi obrigado a instalar-se na casa do filho depois de ter sido encontrado, sozinho e com poucas capacidades, na casa da aldeia. A história da vida do avô, tão rocambolesca que se torna verosímil, alimentará Valdemar com a mesma intensidade que os primeiros beijos molhados com Alice, sua vizinha, e tornará avô e neto cúmplices de uma vingança que remonta à juventude de Nicolau e a um casamento que não chegou a acontecer. A passagem pelas prisões do salazarismo, o envolvimento forçado com a clandestinidade comunista e uma série interminável de azares que talvez não tenham sido só azares, mas armadilhas bem montadas, cruzam-se nas histórias contadas por Nicolau ao seu neto e por este narradas num caderno. E se essa trama principal, quebrada por várias digressões, tem força suficiente para sustentar um romance, a reflexão que a acompanha, sobre verdade e verosimilhança, sobre a memória e a sua perenidade, faz de Deixem Falar as Pedras um presságio, capaz de confirmar que a narrativa de uma história é a única condição para que esta se torne verdadeira.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Da Madeira

(Não sei o que se passou com o post que escrevi no sábado: desapareceu nas engrenagens bem oleadas do intitulado ciberespaço. De modo que aqui se repete.)



No sábado, por volta das 6.00, na 3ª mesa do Festival Literário da Madeira, quando chegou a minha vez de falar sobre Escritores Inconstantes, li o seguinte texto, com todas as suas palavras e virgulas.



Eu tinha uma ideia e não sabia o que fazer com ela. Acontece-me com alguma frequência. Era a história de um assassino em série que acrescentava à sua psicopatia a obsessão de matar alguém uma vez por mês, sempre à primeira hora do primeiro dia de cada mês. Não era tanto uma história, mas a premissa para uma história à qual eu não sabia dar continuidade, sobretudo porque não leio tantos policiais como deveria. De modo que eu tinha uma ideia mas faltava-lhe qualquer coisa.


Depois, um dia, o escritor João Tordo disse-me: «Vamos escrever um livro os dois.» Possivelmente estava bêbado, de outra forma não o teria dito. Eu disse: «Está bem.» Ele perguntou: «Tens alguma ideia?» Assim, sem mais nem menos, como se na vida real um escritor contasse as suas ideias a outro escritor. Ainda assim, lembrei-me imediatamente do assassino obstinado com os seus assassinatos mensais. Tive a certeza de que o escritor João Tordo saberia o que fazer com essa ideia e, talvez por isso mesmo, continuei calado. Ele ficou à espera, rangeu os dentes duas ou três vezes e eu comecei a contar a minha ideia. O João Tordo ouviu-me em silêncio e depois continuou em silêncio durante muito tempo. Por fim, deu dois goles no copo que tinha à frente e riu-se muito alto. Disse: «Essa ideia é boa, mas falta-lhe qualquer coisa.» Porque, mesmo às três da manhã, o escritor João Tordo é muito perspicaz. Eu disse: «João Tordo, se sabes fazer melhor dispara.» Ele bebeu o que restava no copo, devagar, para ganhar tempo. Eu rangi os dentes, mas isso não teve qualquer efeito no escritor João Tordo, porque eu não sei ranger os dentes como ele. Quando o silêncio começava a encher demasiado o espaço entre nós, ele disse: «E se, num mês qualquer, por exemplo, Abril, por alguma razão, esse assassino se visse impedido de matar a sua vítima no primeiro dia do mês? E se, por força de circunstâncias que ainda desconhecemos, ele se visse obrigado a adiar o crime para o dia 2 de Abril? E se esse pequeno abalo na ordem da sua vida o levasse a questionar tudo, até mesmo a sua natureza de assassino?» Ele ia continuar a falar mas eu interrompi-o e apenas disse: «Vamos escrever esse livro os dois.» Por essa altura eu também já estava bêbado, claro. Alinhámos ali mesmo o plano de trabalho. Eu escreveria o capítulo inicial e a partir daí escreveríamos capítulos alternadamente, sem qualquer obrigação de decidirmos em conjunto os avanços da narrativa a não ser em questões de fundo. Brindámos. Os nossos copos chocaram, o meu escorregou-me da mão e partiu-se no chão.


Três dias depois o João Tordo ligou-me. Disse: «Falei com um editor sobre o nosso livro. Aliás, sobre os nossos livros. Ele quer publicar uma série sobre o nosso metódico assassino.» A ideia do editor era publicar um livro por mês, sempre no primeiro dia de cada mês, durante um ano. Doze narrativas sobre doze mortes. No quarto livro, o nosso assassino sofreria o seu desaire e apenas conseguiria matar no dia 2 desse mês e esse livro seria publicado também no dia 2. Eu gostei logo da ideia, porque gosto de encontrar lógica numérica no que quer que seja. O João Tordo acrescentou: «As histórias têm de ser curtas.» Eu senti-me levitar e disse: «120 páginas. Exactamente 120 páginas cada.» O João Tordo ia dizer qualquer coisa, mas eu continuei: «Doze capítulos por livro. Dez páginas por capítulo. Exactamente dez páginas por capítulo.» O João Tordo balbuciou: «Está bem. O editor quer publicar o primeiro livro daqui a três meses. Envia-me o primeiro capítulo ainda hoje.»


Uma semana mais tarde, ele ligou-me. Queria saber porque razão ainda não lhe tinha enviado o primeiro capítulo. Eu perdi-me num labirinto de rodeios. Depois ouvi o escritor João Tordo ranger os dentes do outro lado da ligação e não encontrei outra solução a não ser contar-lhe sobre o meu problema crónico com os primeiros capítulos. A verdade é que, em todos os romances que escrevo, acabo sempre a gastar tantas páginas em versões sucessivas do primeiro capítulo como com o resto do livro. Ele só disse: «Esquece. Eu escrevo o primeiro capítulo. Ou então o livro não está pronto este ano.»


No dia seguinte recebi um e-mail com o primeiro capítulo. Pareceu-me um bom primeiro capítulo, mas havia um problema evidente. Liguei ao João Tordo. Disse-lhe: «Este não é o teu estilo.» «E depois?», perguntou ele. «E depois as pessoas estão habituadas ao teu estilo e agora, de repente, afastas-te das tuas palavras.» O João Tordo soprou: «David Machado, as pessoas também estão habituadas a ver-te sem óculos e, no entanto, olha para ti neste momento, a ler este texto, à frente destas pessoas.» Ele não estava a fazer qualquer sentido. Eu repeti: «Mas é o teu estilo.» E então, nesse momento, o escritor João Tordo blasfemou: «Que se lixe o estilo.» A conversa ficou por ali, claro.


Nas semanas seguintes encontrámos um ritmo certo para o trabalho, a uma média de três capítulos por semana: eu escrevia um capítulo em três dias, depois o escritor João Tordo escrevia um capítulo num dia e por fim eu escrevia um capítulo em dois dias, ao sétimo dia descansávamos.


Quando chegámos ao fim do livro, fomos ler o que tínhamos escrito. À primeira leitura, percebi imediatamente o problema com os capítulos que eu tinha escrito. O escritor João Tordo também percebeu. Disse-me: «Os capítulos 2, 6 e 8 são bons. Mas os capítulos 4 e 10 são uma ameaça ao bom nome da literatura.» Eu expliquei-lhe que nos dias em que escrevera os capítulos 4 e 10 não tinha comprado o jornal e que, por isso mesmo, não tinha sudokus em casa. O João Tordo disse: «O quê» Eu respondi: «Toda a gente sabe da minha necessidade de fazer um sudoku matinal antes de começar a trabalhar. As palavras saem-me com outro ímpeto.» Ele revirou os olhos e eu vi a paciência a escapar-lhe pelas córneas.


As revisões levaram-nos quase duas semanas. No final, feitas as contas, demorámos mais um mês do que o previsto para escrever aquele primeiro livro. Eu disse: «Não vamos conseguir publicar um livro por mês.» O João Tordo pensou uns segundos e depois sugeriu: «Podíamos publicar de dois em dois meses. Eu disse: «Nesse caso, o assassino da nossa história terá de matar alguém de dois em dois meses.» O João Tordo deitou as mãos à cabeça e depois de meio segundo de ponderação disse: «Esquece. É melhor não escrevermos um livro juntos.»


Há três dias liguei ao João Tordo. Disse-lhe: «Escrevi um texto sobre o livro que escrevemos juntos.» Ele respondeu: «Nós não escrevemos nenhum livro juntos.» «Eu sei», disse eu. «Mas tinha de escrever um texto sobre escritores inconstantes para apresentar no Funchal e foi o que me veio à cabeça.» Ele pediu-me que lesse o texto, este texto, e eu li. Ele só disse: «Vou pensar no assunto.»


Ontem à noite, ele ligou-me. Deu-me autorização para ler o texto em público. Antes de desligar acrescentou: «Tenho estado a pensar nessa história do assassino que mata no primeiro dia de cada mês. Talvez pudéssemos mesmo escrever esse livro os dois.» Eu deitei as mãos à cabeça e depois meio segundo de ponderação respondi: «Esquece. Não é boa ideia.»


terça-feira, 29 de março de 2011

Este fim-de-semana, na Madeira, vai ser assim:

Eu vou andar por lá. No sábado, 2 de Abril, estou numa mesa sobre Escritores Inconstantes, com a Raquel Ochoa, a Inês Pedrosa e a Ana Margarida Falcão, moderada por Rogério Sousa. Mais informações a q u i

quarta-feira, 23 de março de 2011

DEIXEM FALAR AS PEDRAS 4

Quatro dias depois de aparecer na livrarias, as façanhas de DEIXEM FALAR AS PEDRAS na imprensa são as que seguem enunciadas:


- uma pequena referência no jornal A Bola (22-03-2011)


- no dia 22 de Março, notícia sobre o livro no jornal O Correio do Minho (22-o3-2011)


- entrevista comigo sobre o romance no Jornal de Letras (23-03-2011)


- crítica ao romance na revista Time Out (23-03-2011)


Assim que tiver estas coisas todas digitalizadas deixo tudo bem arrumadinho aqui no blog, na página da imprensa.

Sobre rabiscar em livros

A mão ainda me dói. Passaram-se umas quarenta horas mas a mão ainda me dói. Segunda-feira estive em Ílhavo, a convite da Biblioteca Municipal, onde fiz três sessões com alunos do concelho, duas em escolas, uma na pópria biblioteca. As sessões correram como vem sendo hábito: os alunos espantam-se com as barbaridades que digo sobre literatura e imaginação, entusiasmam-se com as histórias e episódios que conto, às vezes tenho que esperar um ou dois minutos por novo silêncio para conseguir voltar a falar, no final fazem muitas perguntas, algumas que levam preparadas de antemão, outras improvisadas no momento (gosto mais destas). Entre sessões costumo conversar com os professores ou com as pessoas da biblioteca, faço e antendo telefonemas que não podem esperar. No entanto, desta vez, entre sessões, tudo o que fiz foi ficar sentado no mesmo lugar a autografar livros que alguém, diligentemente, me colocava à frente. No total, dei 200 autógrafos, com respectiva dedicatória. De modo que os tendões da mão direita ainda se ressentem, o pulso continua dorido. É uma dor boa, claro.

domingo, 20 de março de 2011

DEIXEM FALAR AS PEDRAS 3

O meu novo romance, DEIXEM FALAR AS PEDRAS, chega hoje às livrarias.

Gostava que fossem espreitá-lo. Segurem-no, primeiro com uma mão, depois com as duas. Passem os dedos sobre a capa. Não deixem de o folhear. Olhem para as páginas, para a tinta impressa nas páginas, para as palavras alinhadas. Se acharem importante, leiam-no. Gostava muito que o lessem.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O caixote

Esta semana, o correio trouxe um caixote. É uma coisa que de vez em quando acontece cá em casa. A morada do remetente acabava em: Casablanca, Marrocos. Eu não estava cá para o receber. Só hoje de manhã o abri. Havia dez livros lá dentro. Caixotes com livros é outra coisa que costuma acontecer por aqui. Os livros são todos iguais, o mesmo exemplar repetido dez vezes. Na capa, há uma imagem e palavras escritas, embora eu não seja capaz de as ler. Não sou sequer capaz de distinguir os caracteres que formam as palavras. Imagino que alguns daqueles caracteres estejam agrupados de maneira a formarem o meu nome e também o título do livro - HISTÓRIAS POSSÍVEIS.

Através do instinto, compreendo que o livro se abre ao contrário daquilo a que estou habituado. Se eu soubesse decifrar estes caracteres, leria as frases da direita para a esquerda e passaria as páginas da esquerda para a direita, ao contrário do que sempre fiz.
Dentro do livro, página após página, os caracteres estão alinhados e entrelaçados como se dançassem devagar e a mancha de texto é tão bonita que não me importo de não compreender o que diz.

Eu imaginei as palavras que permitiram a existência destas que agora não compreendo. E isso deixa-me feliz.


(A edição marroquina, em árabe, do meu livro de contos Histórias Possíveis foi publicada no início de Março pela editora Racines, com tradução de Said Benabdelouahed e apoio da DGLB.)

quarta-feira, 16 de março de 2011

FLM

Entretanto, os Booktailors já anunciaram o cartaz e o programa do 1º Festival Literário da Madeira, no qual vou participar, entre os dias 1 e 3 de Abril.

Eu no Alto Minho

Cheguei ontem à noite a Arcos de Valdevez. Fui muito bem recebido, como sempre que venho ao Minho, com sorrisos e bifes enormes a sair do prato. Está a decorrer a Semana da Leitura e Biblioteca Municipal organizou um programa de actividades na Casa das Artes e nas escolas do concelho que mais parece o de um festival literário. Há escritores de todos os géneros, contadores de histórias, músicos. Os professores trabalharam bem os livros com os alunos e isso percebe-se na participação destes durante as sessões, nos livros que compraram e que seguram à espera de um autógrafo.

Hoje à tarde, numa sessão com alunos do 10º, 11º e 12º anos, li pela primeira vez o DEIXEM FALAR AS PEDRAS em voz alta para uma audiência. Já tinha lido dez linhas quando percebi o tremendo risco a que me estava a sujeitar. Umas das vozes do romance é de um rapaz de 14 anos, chamado Valdemar, problemático na escola e em casa, obeso, fanático de heavy-metal. Embora não seja um romance juvenil, enquanto escrevia, tentei encontrar o equilíbrio no tom entre o literário e o realista, sem nunca ter certezas sobre se um adolescente leitor se identificaria com a minha personagem. De modo que hoje, ao ler em público as primeiras dez páginas, acabei, sem querer, por forçar o romance à apreciação de quase uma centena de adolescentes.

Houve muito silêncio. Mas não o mesmo silêncio de alguns minutos antes, quando li um conto do HISTÓRIAS POSSÍVEIS, que pouco lhes disse. Era um silêncio mais forte, eles queriam falar mas alguma coisa dentro deles impedia-os. Queriam ouvir. De vez em quando respiravam mais alto, todos ao mesmo tempo. Riram-se algumas vezes, quando eu disse palavras como "cabrão", mas também em momentos em que o Valdemar é irónico e cínico na sua descrição dos acontecimentos. Depois de 10 minutos eu parei e disse: "Querem que continue?" Eles disseram que sim, baixinho. Eu continuei. No final bateram palmas (o que também não tinha acontecido na leitura anterior) e quando o aplauso terminou alguém perguntou quanto é que o livro custa. Eu não sei quanto é que o livro custa. Eles levantaram-se e saíram. Eu estava feliz, mas acho que eles não deram conta.

Amanhã há mais sessões aqui nos Arcos. Ainda bem.

Oficina

Já abriram as inscrições para a oficina de Escrita de Livro Infantil que vou dar entre Abril e Maio na Escrever Escrever.

Mais informações e contactos aqui.

Espreitem.

domingo, 13 de março de 2011

DEIXEM FALAR AS PEDRAS 2

Falta uma semana. Dia 21 de Março, DEIXEM FALAR AS PEDRAS chega às livrarias e aos hipermercados e às papelarias e aos outros locais onde se vendem livros.

Deixo-vos a sinopse (que já anda por aí a circular noutros blogues e sites) que vem escrita na contra-capa do livro.

No dia em que se ia casar, Nicolau Manuel foi levado pela Guarda para um interrogatório e já não voltou. Viveu, assim, quase toda a vida na urgência de contar a verdade a Graça dos Penedo, a noiva que mais tarde lhe seria arrebatada pelo alfaiate que lhe fizera o fato do casamento. Porém, sempre que se abria uma possibilidade, uma ameaça desviava-o dramaticamente do seu destino - e agora, meio século volvido, está velho de mais para querer mudar as coisas, gastando os dias com telenovelas. De tanto ter ouvido ao avô a sua história rocambolesca, Valdemar - um rapaz violento e obeso apaixonado pela vizinha anoréctica - não desistiu, mesmo assim, de fazer justiça por ele. E, ao encontrar casualmente a notícia da morte do alfaiate, sabe que chegou a hora de ir falar com a viúva: até porque essa será a única forma de resgatar Nicolau Manuel da modorra em que se deixou afundar. Alternando a narrativa dos sucessivos infortúnios de Nicolau Manuel - que é também a história de Portugal sob a ditadura, com os seus enganos, perseguições e injustiças - com a de um adolescente que mantém um diário com numerosas passagens rasuradas como instrumento de luta contra o mundo -, Deixem Falar as Pedras é um romance maduro e fascinante sobre a transmissão das memórias de geração em geração, nunca isenta de cortes e acrescentos que fazem da verdade não o que aconteceu, mas o que recordamos.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Dois tecelões

Dois dias em casa do João Lemos a trabalhar n'A MALA INVENTADA e passa-me pela cabeça não voltar a escrever nada que não seja ilustrado. Pode ser banda-desenhada, ou picture books para crianças, ou até para adultos, desde que exista imagem a acompanhar o texto, desde que texto e imagem se fundam e complementem e desapareçam um no outro para criar algo novo, que não estava lá antes.

Quem vive à minha volta sabe que não tenho um pensamento visual. Estou habituado a pensar através das palavras, que não são mais do que símbolos e, como tal, possibilitam as mais variadas interpretações. Gosto muito de acreditar que o mundo na minha cabeça é diferente do mundo de todas as outras pessoas no mundo. As imagens são menos ambíguas do que as palavras, claro, mas não sei se será por isso que me falta um pensamento visual. Talvez a explicação seja mais simples do que isso, talvez seja apenas porque sou daltónico (ainda que num grau pouco significativo) e para mim as cores nunca tiveram uma importância extradordinária.

Seja como for, há uma consequência prática disto, que eu encaro como uma bênção: sempre que termino de escrever um livro para crianças, para lá das palavras que usei (com as suas múltiplas interpretações) não tenho qualquer imagem formada sobre a proporção entre o nariz e a boca das personagens, sobre os quadros que estão pendurados nas paredes da casa do protagonista, sobre o tom de cinzento do céu, etc. Dito de outra forma: não tenho qualquer expectativa em relação àquilo que o ilustrador fará com o texto que lhe entregar. Gosto de conversar com o ilustrador, contar-lhe a origem das ideias, falar-lhe sobre a força que algumas dessas ideias fazem dentro de mim, mas pouco mais do que isso. Depois o ilustrador vai fazer o seu trabalho, se quiser, estou sempre disponível para conversar, tirar dúvidas, dar sugestões, mas não faço questão de o fazer.

Foi isso que aconteceu com o João Lemos. Há uns meses, depois de algumas conversas, o João enviou-me a primeira ilustração, queria saber a minha opinião, queria saber se era aquela imagem que eu tinha na cabeça para o início da história. Não era. Eu não tinha nenhuma imagem, eu só tinha palavras. Ver aquela ilustração pela primeira vez: uma sensação estranha mas maravilhosa, como chegar a um lugar onde nunca estive mas que reconheço perfeitamente, encanto e conforto. Eu disse ao João a minha opinião. Ele voltou ao trabalho. Uns meses depois, enviou-me as 64 ilustrações seguintes. Sim, um trabalho épico. Uma espécie de banda-desenhada, em que casa quadradinho é uma página.

Depois, sentei-me ao lado do João e começámos a entrelaçar as minhas palavras com as imagens dele. Em algumas páginas a teia é leve, noutras, fizemos por atar nós apertados nas pontas e não é possível perceber onde a ilustração começa e o texte termina, é tudo uma só coisa. Não sei como se chama essa coisa. Talvez "ilustrexto" ou "textração". No fundo é apenas um livro. Estivemos assim dois dias, o trabalho de tecelagem não está pronto mas aproxima-se do fim. Depois o livro seguirá para a editora para ser montado e encaixado nas suas medidas exactas. Depois irá para a gráfica, haverá provas de cor para analisar, tons para equilibrar, etc.

Depois o livro deixa de ser um conceito abstracto.

Não falta muito. É coisa de semanas.

domingo, 6 de março de 2011

DEIXEM FALAR AS PEDRAS 1



Eu queria escrever um livro sobre a memória e sobre o passado e também sobre um alfaiate, porque são tudo coisas que me fascinam há anos (enfim, façamos uma ressalva à alfaiataria, que é um interesse recente que se avolumou com a escrita deste livro).

Agora existe este romance.

Como já antes disse por estas paragens, não consigo ficar muito tempo sem passar os olhos pela capa.

Ficam feitas as primeiras apresentações: meus amigos este é DEIXEM FALAR AS PEDRAS, DEIXEM FALAR AS PEDRAS estes são os meus amigos.

sexta-feira, 4 de março de 2011

100 x LER


A revista Ler chegou ao número 100. E com números redondos como este é o que se faz: festeja-se. É pena que os outros números não exaltem os ânimos da mesma forma, porque então teríamos festa todos os meses.
Muitos parabéns a todos os que trabalharam em cada uma das 100 edições.

(Eu dei o meu contributo para festa, como quem aparece com um pack de cerveja: entre as 100 ideias para o futuro há uma minha.)

terça-feira, 1 de março de 2011

Estava prometido

Não são necessárias grandes introduções. Na passada sexta-feira, no Auditório Municipal da Póvoa do Varzim, durante a 7ª Mesa das Correntes d'Escritas, cujo tema era "A Obra que faço é minha", quando a minha vez de falar chegou aquilo que eu disse foi o texto que se segue.



A obra que faço é minha, claro. Mas essa nem sequer é a questão mais relevante.


Não tenho a certeza, mas penso que o meu primeiro momento de criação literária aconteceu quando eu tinha dois anos. Não me lembro de nada, claro. Os meus pais é que contam essa história. A história da galinha, que entre os mais pequenos, em escolas e bibliotecas, eu já devo ter contado umas quatrocentas vezes. Até porque foi esse episódio que esteve na origem do meu primeiro livro para crianças, “A Noite dos Animais Inventados”. Poucas vezes contei a história da galinha para um público adulto. Mas agora esse momento chegou.


Por volta dos meus dois anos, tive uma galinha imaginária. Creio que toda a gente, a um determinado instante da infância, terá tido amigos imaginários; e a meu ver, o facto de eu ter imaginado um animal que pouco interage com as pessoas e não faz mais do que bicar milho e pôr ovos revela, ao contrário do que possa parecer, a pouca imaginação que eu tinha então. Os meus pais contam que durante umas semanas a galinha me acompanhou para todo o lado, debaixo do braço (que segurava em nada), como um animal de estimação real. Se alguém experimentava sentar-se numa cadeira, eu gritava que não podia fazê-lo porque estava ali a galinha. Os meus pais contam que de início acharam graça. Depois ficaram preocupados mas, sobretudo, cansados por haver lá em casa um animal a estorvar pelas divisões que ninguém via a não ser eu. Por isso fizeram o que fizeram. Uma manhã saímos de casa para apanhar um autocarro. Eles iam trabalhar, eu ia para a creche. Quando estávamos na paragem à espera do autocarro – e lá estava eu com a galinha debaixo do braço – os meus pais disseram-me: «David, neste autocarro não podem entrar galinhas.» Nem eles nem eu poderemos alguma vez saber o que me passou pela cabeça naquele instante. Ainda assim, contam os meus pais, eu ouvi o que eles disseram e de seguida baixei-me para pousar a galinha no chão da paragem. O autocarro chegou. Entrámos. Contam os meus pais que eu me cheguei à janela para dizer adeus à galinha. Contam também que nunca mais vi a galinha.


O interessante aqui não é, claro, eu, com dois anos apenas, ter imaginado uma galinha, mas sim tê-la abandonado porque de outra forma não saberia ver-me livre dela. Por alguma razão o verbo desimaginar não faz parte do nosso léxico. A imaginação, sobretudo a imaginação das crianças, ao contrário do que se possa pensar, orienta-se por regras firmes e tem limites intransponíveis. Mais interessante ainda é o facto de os meus pais terem ajudado a ver-me livre da galinha. Sem eles, a história não teria uma conclusão e como tal não seria sequer uma história.


E a partir daqui, se acharem que vos serve de alguma coisa, sempre que eu disser “galinha”, quero que pensem “livro” (não tanto enquanto objecto, mas como texto ou narrativa ou conto ou romance) e sempre que eu disser “os meus pais” pensem “o leitor”, com as devidas alterações de artigos e verbos associados.


A galinha é minha. Fui eu que a inventei, fui eu o primeiro que a pensou. Mas a verdade é que sem os meus pais a galinha seria apenas uma invenção da minha cabeça, perdida no meio de outros pensamentos e de outras brincadeiras, desconhecida para todos menos para mim, que, mais cedo do que tarde, acabaria por esquecê-la completamente. Foram os meus pais, no momento em que permitiram que um elemento da minha imaginação se metesse na deles, quem deu à galinha lugar entre as coisas da realidade, um lugar que era, claro, diferente daquele que eu lhe havia atribuído. Eu via na galinha uma companhia. Os meus pais encontraram nela primeiro um motivo para sorrir, depois um aborrecimento e um estorvo e por fim até um problema. Porque há infinitas maneiras de se olhar para uma galinha. Sobretudo para uma galinha imaginária. Mas mais ainda: foi só através da imaginação dos meus pais que eu resolvi o destino à galinha. A galinha existia e, sim, era minha, mas os meus pais deram-lhe significado quando decidiram interferir nos acontecimentos com os seus próprios pensamentos. Podiam não ter interferido, essa opção existe sempre, podiam ter dito: “David, essa galinha não existe, acabou-se a brincadeira”, como quem termina a leitura de um livro antes da última página. (E atenção: o jogo apenas funciona num sentido, quando eu digo “livro” não quero que pensem “galinha”, quero que pensem “livro”)


E depois, como se tudo isso não bastasse, foram os meus pais que guardaram na memória a minha galinha. Eu tinha apenas dois anos e por isso esqueci-a. Talvez no momento em que saí do autocarro naquela manhã já a tivesse esquecido. Mas eles lembraram-se sempre, até ao dia em que me contaram a sua história pela primeira vez. E é possível que a história que eles me contaram não seja exactamente a história da minha galinha, mas isso, para mim, nunca foi nem será um problema.


A verdade por trás desta história define aquilo que para mim é literatura. A literatura é um diálogo. A primeira palavra é minha e será sempre minha até ao final da conversa, mas depois existe alguém que responde. Se não houver ninguém a responder, pouco importa se a primeira palavra é minha ou não.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Nas Correntes...

O mundo inteiro parece estranhamente sereno. O silêncio - de que eu tanto gosto - é demasiado agudo, faltam-lhe as vozes e os pensamentos e o ruído que muitos livros juntos fazem ao serem folheados ao mesmo tempo. Deve ser o que sucede sempre que se regressa das Correntes d'Escritas.


Foi bom estar com amigos. Foi bom fazer novos amigos. Houve algum trabalho que não pareceu trabalho e noites longas que pareceram curtas. As intervenções nas mesas das sessões a que assisti foram quase sempre interessantes, algumas inspiradoras, embora eu não acredite na inspiração.


A minha prestação na mesa com o tema "A obra que faço é minha" correu muito bem mas foi, ao contrário do que o público presente possa ter pensado, atribulada. Na noite anterior tinha bebido uma cerveja a mais do que aquilo que talvez seja a minha conta certa e dormi cerca de quatro horas (do meu companheiro de quarto, um tal de João Tordo, vou apenas referir que, quando se foi deitar meia hora depois de mim, se esqueceu de fechar a porta do quarto). Acordei perto das oito da manhã em piloto automático, mais de uma hora antes da hora programada para o despertador do telemóvel tocar. Levantei-me. E não voltei a parar. Até ao fim do dia não consegui um único par de horas seguido para uma sesta. Estive na EB 2/3 Cego do Maio durante a manhã.Depois assisti ao lançamento dos novos romances do João Paulo Cuenca (um novo amigo) e do João Paulo Borges Coelho. Depois almoço. Depois assisti à mesa das 15.00. De modo que às 17.30, quando começou a minha mesa, o meu estado físico era como entende: dor de cabeça, sono e um cansaço que me pesava sobre o corpo todo. E como se isso não bastasse, ainda não estava a falar há trinta segundos quando senti os nervos estremecerem entre os ossos e a voz. Não me costuma acontecer. Pousei o papel onde levava a minha apresentação escrita, porque a mão me tremia e os olhos não conseguiam focar as linhas. Não me engasguei e não me enganei. Disse tudo o que tinha pensado dizer. As pessoas riram nas partes em que eu imaginei que se iriam rir, ficaram em silêncio, a escutar, nas outras. Tanto quanto sei, ninguém deu conta do meu sono, da dor de cabeça e dos nervos. No final houve aplausos, senti alívio, algumas pessoas vieram falar comigo, deram-me os parabéns, duas pediram-me o papel com o texto da minha apresentação. Não dei o papel, mas prometi que publicaria o texto neste blog, porque eu também gosto muito do que escrevi, e nos próximos dias isso vai acontecer.


Mas para mim, o melhor destas Correntes foi, claro, apresentar o meu novo romance. DEIXEM FALAR AS PEDRAS esteve à venda durante cinco dias apenas na livraria do festival, as pessoas puderam conhecer-lhe as formas, pegar nele, sentir os relevos da capa, folheá-lo, ler um par de parágrafos. Algumas compraram-no, talvez o estejam a ler neste momento, este pensamento deixa-me feliz. Dei alguns autógrafos, não ia preparado para isso, não tinha pensado nas dedicatórias que quero escrever na primeira página deste livro, espero não ter escrito disparates. O livro volta a esconder-se durante as próximas semanas e só estará de novo à venda dia 21 de Março, desta vez em todas as livrarias do país. Por isso ainda não é desta vez que vou falar dele.


Houve também a entrevista à Maria João Costa, da Rádio Renascença. Era eu e o Paulo Ferreira (autor do romance "Onde a Vida se Perde") e o João Paulo Cuenca. Pode ser ouvida aqui.


O meu balanço da minha primeira participação nas Correntes resume-se numa palavra. Disse-a entre os agradecimentos que fiz no início da minha intervenção na mesa de sexta-feira. A palavra é "conforto". Durante os três dias que passei na Póvoa do Varzim, senti um enorme conforto. E este post é dedicado à Manuela Ribeiro e ao Francisco Guedes, os organizadores do festival, incansáveis, dedicados, solidários, sempre presentes, como se tivessem o poder da desmultiplicação, agora meus amigos. Agradeço-lhes por me terem convidado e pela forma animada que usaram para me receber.


Quero voltar no próximo ano, quero voltar em todos os anos, sentado a uma mesa em cima do palco ou numa cadeira entre a assistência. Desde que esteja lá, o lugar será pouco importante.