terça-feira, 29 de março de 2011
Este fim-de-semana, na Madeira, vai ser assim:
segunda-feira, 28 de março de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
DEIXEM FALAR AS PEDRAS 4
Quatro dias depois de aparecer na livrarias, as façanhas de DEIXEM FALAR AS PEDRAS na imprensa são as que seguem enunciadas:
Sobre rabiscar em livros
domingo, 20 de março de 2011
DEIXEM FALAR AS PEDRAS 3
Gostava que fossem espreitá-lo. Segurem-no, primeiro com uma mão, depois com as duas. Passem os dedos sobre a capa. Não deixem de o folhear. Olhem para as páginas, para a tinta impressa nas páginas, para as palavras alinhadas. Se acharem importante, leiam-no. Gostava muito que o lessem.
sexta-feira, 18 de março de 2011
O caixote
quarta-feira, 16 de março de 2011
FLM
Eu no Alto Minho
Hoje à tarde, numa sessão com alunos do 10º, 11º e 12º anos, li pela primeira vez o DEIXEM FALAR AS PEDRAS em voz alta para uma audiência. Já tinha lido dez linhas quando percebi o tremendo risco a que me estava a sujeitar. Umas das vozes do romance é de um rapaz de 14 anos, chamado Valdemar, problemático na escola e em casa, obeso, fanático de heavy-metal. Embora não seja um romance juvenil, enquanto escrevia, tentei encontrar o equilíbrio no tom entre o literário e o realista, sem nunca ter certezas sobre se um adolescente leitor se identificaria com a minha personagem. De modo que hoje, ao ler em público as primeiras dez páginas, acabei, sem querer, por forçar o romance à apreciação de quase uma centena de adolescentes.
Houve muito silêncio. Mas não o mesmo silêncio de alguns minutos antes, quando li um conto do HISTÓRIAS POSSÍVEIS, que pouco lhes disse. Era um silêncio mais forte, eles queriam falar mas alguma coisa dentro deles impedia-os. Queriam ouvir. De vez em quando respiravam mais alto, todos ao mesmo tempo. Riram-se algumas vezes, quando eu disse palavras como "cabrão", mas também em momentos em que o Valdemar é irónico e cínico na sua descrição dos acontecimentos. Depois de 10 minutos eu parei e disse: "Querem que continue?" Eles disseram que sim, baixinho. Eu continuei. No final bateram palmas (o que também não tinha acontecido na leitura anterior) e quando o aplauso terminou alguém perguntou quanto é que o livro custa. Eu não sei quanto é que o livro custa. Eles levantaram-se e saíram. Eu estava feliz, mas acho que eles não deram conta.
Amanhã há mais sessões aqui nos Arcos. Ainda bem.
domingo, 13 de março de 2011
DEIXEM FALAR AS PEDRAS 2
Deixo-vos a sinopse (que já anda por aí a circular noutros blogues e sites) que vem escrita na contra-capa do livro.
quarta-feira, 9 de março de 2011
Dois tecelões
Quem vive à minha volta sabe que não tenho um pensamento visual. Estou habituado a pensar através das palavras, que não são mais do que símbolos e, como tal, possibilitam as mais variadas interpretações. Gosto muito de acreditar que o mundo na minha cabeça é diferente do mundo de todas as outras pessoas no mundo. As imagens são menos ambíguas do que as palavras, claro, mas não sei se será por isso que me falta um pensamento visual. Talvez a explicação seja mais simples do que isso, talvez seja apenas porque sou daltónico (ainda que num grau pouco significativo) e para mim as cores nunca tiveram uma importância extradordinária.
Seja como for, há uma consequência prática disto, que eu encaro como uma bênção: sempre que termino de escrever um livro para crianças, para lá das palavras que usei (com as suas múltiplas interpretações) não tenho qualquer imagem formada sobre a proporção entre o nariz e a boca das personagens, sobre os quadros que estão pendurados nas paredes da casa do protagonista, sobre o tom de cinzento do céu, etc. Dito de outra forma: não tenho qualquer expectativa em relação àquilo que o ilustrador fará com o texto que lhe entregar. Gosto de conversar com o ilustrador, contar-lhe a origem das ideias, falar-lhe sobre a força que algumas dessas ideias fazem dentro de mim, mas pouco mais do que isso. Depois o ilustrador vai fazer o seu trabalho, se quiser, estou sempre disponível para conversar, tirar dúvidas, dar sugestões, mas não faço questão de o fazer.
Foi isso que aconteceu com o João Lemos. Há uns meses, depois de algumas conversas, o João enviou-me a primeira ilustração, queria saber a minha opinião, queria saber se era aquela imagem que eu tinha na cabeça para o início da história. Não era. Eu não tinha nenhuma imagem, eu só tinha palavras. Ver aquela ilustração pela primeira vez: uma sensação estranha mas maravilhosa, como chegar a um lugar onde nunca estive mas que reconheço perfeitamente, encanto e conforto. Eu disse ao João a minha opinião. Ele voltou ao trabalho. Uns meses depois, enviou-me as 64 ilustrações seguintes. Sim, um trabalho épico. Uma espécie de banda-desenhada, em que casa quadradinho é uma página.
Depois, sentei-me ao lado do João e começámos a entrelaçar as minhas palavras com as imagens dele. Em algumas páginas a teia é leve, noutras, fizemos por atar nós apertados nas pontas e não é possível perceber onde a ilustração começa e o texte termina, é tudo uma só coisa. Não sei como se chama essa coisa. Talvez "ilustrexto" ou "textração". No fundo é apenas um livro. Estivemos assim dois dias, o trabalho de tecelagem não está pronto mas aproxima-se do fim. Depois o livro seguirá para a editora para ser montado e encaixado nas suas medidas exactas. Depois irá para a gráfica, haverá provas de cor para analisar, tons para equilibrar, etc.
Depois o livro deixa de ser um conceito abstracto.
Não falta muito. É coisa de semanas.
domingo, 6 de março de 2011
DEIXEM FALAR AS PEDRAS 1
Eu queria escrever um livro sobre a memória e sobre o passado e também sobre um alfaiate, porque são tudo coisas que me fascinam há anos (enfim, façamos uma ressalva à alfaiataria, que é um interesse recente que se avolumou com a escrita deste livro).
sexta-feira, 4 de março de 2011
100 x LER
(Eu dei o meu contributo para festa, como quem aparece com um pack de cerveja: entre as 100 ideias para o futuro há uma minha.)
terça-feira, 1 de março de 2011
Estava prometido
A obra que faço é minha, claro. Mas essa nem sequer é a questão mais relevante.
Não tenho a certeza, mas penso que o meu primeiro momento de criação literária aconteceu quando eu tinha dois anos. Não me lembro de nada, claro. Os meus pais é que contam essa história. A história da galinha, que entre os mais pequenos, em escolas e bibliotecas, eu já devo ter contado umas quatrocentas vezes. Até porque foi esse episódio que esteve na origem do meu primeiro livro para crianças, “A Noite dos Animais Inventados”. Poucas vezes contei a história da galinha para um público adulto. Mas agora esse momento chegou.
Por volta dos meus dois anos, tive uma galinha imaginária. Creio que toda a gente, a um determinado instante da infância, terá tido amigos imaginários; e a meu ver, o facto de eu ter imaginado um animal que pouco interage com as pessoas e não faz mais do que bicar milho e pôr ovos revela, ao contrário do que possa parecer, a pouca imaginação que eu tinha então. Os meus pais contam que durante umas semanas a galinha me acompanhou para todo o lado, debaixo do braço (que segurava em nada), como um animal de estimação real. Se alguém experimentava sentar-se numa cadeira, eu gritava que não podia fazê-lo porque estava ali a galinha. Os meus pais contam que de início acharam graça. Depois ficaram preocupados mas, sobretudo, cansados por haver lá em casa um animal a estorvar pelas divisões que ninguém via a não ser eu. Por isso fizeram o que fizeram. Uma manhã saímos de casa para apanhar um autocarro. Eles iam trabalhar, eu ia para a creche. Quando estávamos na paragem à espera do autocarro – e lá estava eu com a galinha debaixo do braço – os meus pais disseram-me: «David, neste autocarro não podem entrar galinhas.» Nem eles nem eu poderemos alguma vez saber o que me passou pela cabeça naquele instante. Ainda assim, contam os meus pais, eu ouvi o que eles disseram e de seguida baixei-me para pousar a galinha no chão da paragem. O autocarro chegou. Entrámos. Contam os meus pais que eu me cheguei à janela para dizer adeus à galinha. Contam também que nunca mais vi a galinha.
O interessante aqui não é, claro, eu, com dois anos apenas, ter imaginado uma galinha, mas sim tê-la abandonado porque de outra forma não saberia ver-me livre dela. Por alguma razão o verbo desimaginar não faz parte do nosso léxico. A imaginação, sobretudo a imaginação das crianças, ao contrário do que se possa pensar, orienta-se por regras firmes e tem limites intransponíveis. Mais interessante ainda é o facto de os meus pais terem ajudado a ver-me livre da galinha. Sem eles, a história não teria uma conclusão e como tal não seria sequer uma história.
E a partir daqui, se acharem que vos serve de alguma coisa, sempre que eu disser “galinha”, quero que pensem “livro” (não tanto enquanto objecto, mas como texto ou narrativa ou conto ou romance) e sempre que eu disser “os meus pais” pensem “o leitor”, com as devidas alterações de artigos e verbos associados.
A galinha é minha. Fui eu que a inventei, fui eu o primeiro que a pensou. Mas a verdade é que sem os meus pais a galinha seria apenas uma invenção da minha cabeça, perdida no meio de outros pensamentos e de outras brincadeiras, desconhecida para todos menos para mim, que, mais cedo do que tarde, acabaria por esquecê-la completamente. Foram os meus pais, no momento em que permitiram que um elemento da minha imaginação se metesse na deles, quem deu à galinha lugar entre as coisas da realidade, um lugar que era, claro, diferente daquele que eu lhe havia atribuído. Eu via na galinha uma companhia. Os meus pais encontraram nela primeiro um motivo para sorrir, depois um aborrecimento e um estorvo e por fim até um problema. Porque há infinitas maneiras de se olhar para uma galinha. Sobretudo para uma galinha imaginária. Mas mais ainda: foi só através da imaginação dos meus pais que eu resolvi o destino à galinha. A galinha existia e, sim, era minha, mas os meus pais deram-lhe significado quando decidiram interferir nos acontecimentos com os seus próprios pensamentos. Podiam não ter interferido, essa opção existe sempre, podiam ter dito: “David, essa galinha não existe, acabou-se a brincadeira”, como quem termina a leitura de um livro antes da última página. (E atenção: o jogo apenas funciona num sentido, quando eu digo “livro” não quero que pensem “galinha”, quero que pensem “livro”)
E depois, como se tudo isso não bastasse, foram os meus pais que guardaram na memória a minha galinha. Eu tinha apenas dois anos e por isso esqueci-a. Talvez no momento em que saí do autocarro naquela manhã já a tivesse esquecido. Mas eles lembraram-se sempre, até ao dia em que me contaram a sua história pela primeira vez. E é possível que a história que eles me contaram não seja exactamente a história da minha galinha, mas isso, para mim, nunca foi nem será um problema.
A verdade por trás desta história define aquilo que para mim é literatura. A literatura é um diálogo. A primeira palavra é minha e será sempre minha até ao final da conversa, mas depois existe alguém que responde. Se não houver ninguém a responder, pouco importa se a primeira palavra é minha ou não.