sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Duas ou três coisas

Assim, sem muitos preâmbulos, deixo aqui duas ou três coisas que se passaram nas últimas semanas e depois volto ao trabalho.

O programa do canal Q, Ah, a Literatura! chegou ao fim, o que é mau, porque agora vamos todos ter de voltar a pensar que a literatura é coisa de vida ou morte, ou acima da vida e da morte, que só pode ser debatida por gente com pelo menos três doutoramentos. Eu estava lá, no último episódio, falei até, mas confesso que estive sobretudo entretido com o copo de vinho verde que tinha na mão. Foi assim



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E saíu finalmente o novo número da revista Solta Palavra, editada pelo Centro de Recursos e Investigação sobre Literatura para a Infância e Juventude (ou CRILIJ). Cada número é quase totalmente dedicado a um autor e desta vez escolheram falar sobre o meu trabalho nos livros infantis. Há artigos, recensões, entrevista, bibliografia revisitada e um texto meu. E esta confiança no meu trabalho deixa-me muito feliz. Fica aqui o meu abraço de gratidão e amizade para a Maria da Graça Carvalho e para todos os que de alguma forma participaram nesta revista.


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Na revista Os Meus Livros de Outubro, aproveitando as comemorações do centenário de Alves Redol e Manuel da Fonseca, há um artigo sobre o Neo-Realimo, no qual, entre outras vozes, eu digo o pouco que sei sobre o assunto.

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E é tudo.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Em Outubro vou orientar um novo workshop de escrita de livro infantil

Como os anteriores workshops que orientei, este também vai ser na Escrever Escrever (em pleno Largo do Camões). As inscrições estão abertas, as vagas são limitadas e as estatíticas revelam que as cadeiras na sala ficam sempre todas ocupadas.

São seis sessões ao longo de seis semanas, a começar no dia 10 de Outubro.

Mais informações aqui.

E eu nunca tinha pensado fazer isto, ser "professor", passar conhecimentos, porque nunca me achei dotado de conhecimentos suficientemente relevantes para serem passados. Mas há cerca de um ano a Conceição Garcia (da Escrever Escrever) perguntou-me se eu queria estruturar um curso à volta de escrita de livro infantil e eu disse que sim, sobretudo porque me pareceu importante (para mim, antes de mais) organizar as ideias em relação a algo que sempre fiz guiado por instintos. Não é fácil: transformar instintos em critérios racionais.

Só que a verdade é que estes cursos não são tanto uma passagem de conhecimentos, mas antes uma troca de ideias constante, uma reflexão em grupo sobre narrativas e personagens e palavras. E eu não sei se isto está certo, mas eu aprendo também, eu descubro novas formas de olhar para as palavras através dos pensamentos dos meus "alunos".

E falta falar do meu espanto. Porque eles ouvem-me e quase todos estão dispostos a forçar os seus limites e a largar mão de fórmulas lógicas que os acompanham há muito tempo. No final do curso, quase todos partilham a opinião de que não iam à espera que fosse tão difícil, eles pensavam que escrever um livro era mais simples. A qualidade dos contos que escrevem não é o mais importante, ainda que alguns sejam promissores. Ninguém escreve um bom conto à primeira tentativa. Nem à segunda. Nem à décima quinta. O mais importante é isto: depois daquelas seis sessões eles sabem que se começa a escrever uma narrativa muito antes da primeira palavra surgir no papel ou no ecrã e que o último ponto final da história está longe de ser o final do trabalho. E saber que eles sabem isso deixa-me sempre tão feliz.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Já há coisas a acontecer mas ainda não se podem ver

Três semanas de silêncio aqui no blog para: 1) Voltar a trabalhar no romance que ficou pendurado durante as férias. 2) Gerir a desarrumação da casa por causa das obras que fizemos numa das divisões. 3) Não sou capaz de identificar exactamente um terceiro motivo, é mais uma longa soma de pequenos motivos diários.

Entretanto, as obras terminaram, restou a desarrumação e uma poeira fina que andou vários dias a pairar no ar e por fim assentou em tudo o que há na casa.

E o romance avançou. Isso era importante para mim. Durante as férias escrevi pouco mais de cinco páginas, as ideias e as palavras acumularam-se e andava engasgado.

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Por outro lado, a agenda do próximo ano começa a assumir contornos. Em breve deixo aqui as visitas a escolas e bibliotecas já confirmadas. Há também dois ou três projectos com os quais já aceitei colaborar, no entanto, ainda é cedo para falar sobre isso.

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E o José Mário Silva colocou finalmente no seu blog a recensão que escreveu sobre DEIXEM FALAR AS PEDRAS na revista LER de Junho.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Já está nas livrarias

o livro Diários de Motocicleta, de Che Guevara, na Editora Objectiva. Com tradução minha.

No último mês

No último mês o mundo deixou de existir temporariamente. Em quatro semanas de férias ligámo-nos à internet por pouco mais de uma hora repartida por duas ocasiões. Nas duas primeiras semanas, não ligámos a televisão uma única vez e depois disso assistimos ao telejornal umas três ou quatro noites. Um dia comprámos o jornal mas mal o abrimos. De modo que os emails acumularam-se até ao disparate e soubemos dos motins no Reino Unido quando já tudo estava em paz e ainda hoje não sei o resultado dos jogos que a seleção portuguesa fez nem os do início do campeonato. Não foi propositado. Mas para o ano que vem será.

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Não costumo falar aqui de leituras, mas nas últimas semanas li livros cujos títulos sinto que devo partilhar.

You shall know our velocity, de Dave Eggers (em Portugal está publicado na Quetzal)

The autograph man, de Zadie Smith (em Portugal na Dom Quixote)

The history of love, de Nicole Krauss (em Portugal na Dom Quixote)

The broom of the system, de David Foster Wallace (em Portugal ainda nenhum editor deu conta de que há um buraco nas prateleiras das livrarias e que só este autor lá cabe)

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E depois de três meses (juro, foram três meses) e várias peripécias , chegou no correio esta preciosidade:



o autor é favorito cá em casa e mesmo que fossem apenas meia dúzia de páginas a expectativa seria idêntica.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Notas sobre Belgrado

Da primeira vez que deixei Belgrado, há 7 anos, pensei: "Gostava muito de voltar aqui, mas é possível que isso nunca aconteça." No domingo de madrugada, apanhei um táxi para o aeroporto e pensei: "Gostava muito de voltar aqui, mas é possível que isso nunca aconteça." De modo que tenho esperança.

O meu corpo lembrava-se de Belgrado. Na recepção do hotel pedi um mapa da cidade, mas não cheguei a usá-lo. As minhas pernas sabiam o caminho e os meus olhos sabiam para onde olhar. Sem dificuldade encontrei todos os lugares por onde tinha passado há 7 anos.

No sábado li novamente O Mundo Silencioso de Diamantino. Estávamos no parque Kalemegdan, junto à fortaleza. A noite estava fria mas não chovia. Antes tinham passado o filme The Graduate e havia centenas de pessoas espalhadas pela relva. Quando o filme terminou e começaram as leituras, muita gente levantou-se porque a literatura é, de longe, menos popular do que o Dustin Hoffman. Mas ainda assim umas cem pessoas resistiram ao impulso de ir para casa e ficaram para ouvir escritores a ler contos em idomas incompreensíveis. Gosto muito dessas cerca de cem pessoas.

E agora Lisboa outra vez. Mas isso nunca foi uma coisa má.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Os dias de Kikinda

É muito bom estar de volta à Sérvia, claro. Mas é mais do que isso. Desta vez há literatura à mistura.

Por enquanto o Festival de Conto de Kikinda está em Kikinda. Nas últimas duas noites, cerca de trinta autores de quase vinte nacionalidades subiram a um palco no jardim da biblioteca municipal e leram os seus contos. Ao que parece, também aqui os novos escritores estão na moda. Quase todos os autores convidados do festival têm menos de 40 anos, apenas um ou dois romances publicados (a estrela da trupe, uma espécie de padrinho entre nós, é o escritor irlandês Bernard Maclaverty).

Cada autor lê o seu conto na sua língua; em simultâneo, atrás, numa parede, o texto é projectado na versão sérvia e também na versão inglesa, para que todos possam seguir o autor que lê. É muito impressionante como tudo se complementa: a leitura do texto em voz alta numa língua cujas palavras são para mim indecifráveis impõe a sonoridade e o ritmo à leitura que eu faço em silêncio em inglês.

Em mesas de café e bancos de jardim, 150 pessoas acompanham a literatura com cerveja e schnapps. E ao longo de duas horas, os autores sucedem-se no palco para ler histórias e na audiência o silêncio profundo é apenas interrompido pelos aplausos no final de cada leitura.

Ontem à noite li o conto O silencioso mundo de Diamantino, do meu livro HISTÓRIAS POSSÍVEIS.



Hoje, depois de almoço, seguimos para Belgrado e nas próximas duas noites as leituras vão repetir-se ali. E há uma ansiedade evidente entre todos: a experiência de Kikinda foi muito gratificante.

Nota final: só ontem à noite me apercebi que tinha saudades de comer um burek às três da manhã.